UT - Final II Divisão -1973-74

De pé – João Lopes da Costa (Delegado), João Carlos, Quim Pereira, Kiki, Cardoso, Alexandre, Raul Águas, Fernandes, Silva Morais, Artur Santos (Treinador) e Teixeira (Massagista);
Na primeira fila – Raul, Pavão, Bolota, Camolas, Sanina, Caetano, Fernando e Faustino.

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“O TÍTULO PARA TOMAR NUMA FINAL COM SETE GOLOS”

Estádio Municipal de Coimbra

Árbitro – Adelino Antunes, de Leiria

U. TOMAR – Quim Pereira; Kiki, João Carlos, «capitão», Faustino (62m – Fernando) e Fernandes; Cardoso, Raul Águas e Pavão (71m – Sanina); Raul, Bolota e Camolas

SP. ESPINHO – Luz (49m – Aníbal); Artur Augusto, Simplício, Gonçalves, «capitão» e Gomes; Meireles, Ferreira da Costa e Júlio (62 m – Hélder Ernesto); Augusto, Telé e Malagueta

1-0 – Bolota – 1m
1-1 – Malagueta – 7m
2-1 – João Carlos (pen.) – 18m
3-1 – Bolota – 35m
4-1 – Bolota – 48m
4-2 – Telé – 83m
4-3 – Telé – 85m

«Substituições: no União de Tomar, aos 62 minutos, Fernando entrou para o lugar de Faustino e aos 71, Sanina rendeu Pavão. No Espinho aos 49 minutos, Aníbal substituiu Luz e, aos 62, Hélder Ernesto ocupou o lugar de  Júlio.

Ao intervalo: 3-1. Marcadores: Bolota, aos 1, 35 e 48 e João Carlos (de grande penalidade) aos 18 minutos, pelo União de Tomar; Malagueta, aos 7 e Telé aos 83 e 85 minutos, pelo Sporting de Espinho.

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Com razoável assistência, em que dominava o entusiasmo das falanges de apoio, defrontaram-se duas turmas com futebol de diferente concepção. O União de Tomar, mais maduro, apoiado e objectivo; o Espinho, mais rápido e com base no valor individual das suas unidades, menos prático, por isso, a exigir uma capacidade física que não é possível encontrar ao cabo de tão longo campeonato.

Essa diferença ficou perfeitamente espelhada no resultado tangencial, apesar de, perto do fim, o «placard» mostrasse 4-1 favorável aos nabantinos.

O entusiasmo varreu o Estádio Municipal de Coimbra, quando o Sporting de Espinho passou de quase conformado à situação de inconformado. Dois golos, quase de rajada, e uma forte pressão sobre a baliza adversária nos derradeiros instantes, criaram ambiente de euforia e de expectativa, única nota positiva, aliás, da segunda parte.

Antes do encontro, o professor Manuel Grilo, da Federação Portuguesa de Futebol e os dirigentes da Associação Futebol de Coimbra, drs. Guilherme de Oliveira e Rodrigo Santiago, desceram ao relvado para fazer a entrega a técnicos, jogadores e massagistas de ambas as equipas das medalhas referentes às vitórias  nas Zonas Norte e Sul do «Nacional» da II Divisão.

No início do desafio, uma fuga pela direita de Pavão, a centrar para Bolota – e este inaugurou o marcador.

Não se impressionaram os nortenhos. Jogava-se com velocidade, mostrando-se, porém, o União mais objectivo.

Mas o Espinho, persistentemente, continuou a procurar a baliza contrária, conseguindo, aos 7 minutos, a igualdade, por intermédio de Malagueta, oportuno numa recarga de cabeça.

Nítido equilíbrio das duas turmas em confronto, mas, desde logo, se verificava que o ritmo de jogo não era o mais calhado para o Espinho. Longas corridas acabariam por fazer efeito.

Aos 18 minutos, Pavão centrou; instintivamente, Júlio, metido no sector defensivo, meteu a mão à bola e o árbitro, de imediato, assinalou grande penalidade, convertida por João Carlos.

Apesar do contratempo, o Espinho começou a evidenciar mais agressividade, através de lances conduzidos por Ferreira da Costa (o melhor dos 26), Malagueta e Telé. Este chegou mesmo a perder uma oportunidade soberana, aos 32 minutos.

Três minutos decorridos, o Tomar lançou um ataque, em que intervieram Pavão e Bolota, cabendo a este, em jogada individual, chegar aos 3-1. Aos 36 minutos, o Espinho voltou a desperdiçar duas flagrantes oportunidades de marcar, por Júlio e Telé mostrando-se este o mais perigoso avançado.

No reatamento, logo aos 3 minutos, na sequência de um livre, o guarda-redes saiu para interceptar, mas largou a bola, deslize bem aproveitado por Bolota, que fez 4-1. Depois deste lance, o guardião nortenho foi substituído.

A velocidade dos primeiros 45 minutos havia-se perdido, entretanto. Tomar, descansado com a vantagem obtida, limitou-se a segurar as surtidas do adversário, congelando o esférico.

Hélder Ernesto entrara para o meio-campo espinhense, no intuito claro de forçar. Bem sucedida essa alteração, pois logo o Espinho começou a aparecer com mais frequência ao ataque. Aos 38 minutos, segundo golo; Augusto centrou do lado esquerdo e Telé, com um golpe de cabeça, desviou a bola para a baliza adversária, sem qualquer oposição.

Redobraram os nortenhos de entusiasmo e, quando dois minutos decorridos, o mesmo Telé passou o resultado para 3-4, foi indiscritível o entusiasmo da sua falange de apoio.

Apesar de uma ou duas incursões à área nabantina, não se alterou, porém, o resultado. O União de Tomar acabou por se sagrar campeão. Nele se distinguiram João Carlos, Pavão, Raul Águas, Bolota e Camolas e, no Espinho, Simplício, Meireles, Ferreira da Costa, Augusto, Telé e Malagueta.

Boa arbitragem.

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A satisfação do treinador Artur

Artur, treinador do União de Tomar:

– Estou satisfeito, pois foi esta a terceira vez que levei uma equipa à I Divisão. No que respeita a este encontro, sou de opinião que as equipas foram bem dignas uma da outra. O resultado, porém, não sofre contestação. Depois do quarto golo, a minha equipa descansou, o que deu possibilidade ao Espinho de subir. Parabéns a quantos contribuiram para este bom espectáculo.

Andrade: «Golos consentidos»

Francisco Andrade, treinador do Sporting de Espinho:

– A minha equipa, como eu esperava, acabou por falhar no capítulo do remate. A defesa, por sua vez, continua a não ter sorte em Coimbra, acabando os golos do Tomar por serem mais consentidos do que conseguidos. Parabéns à equipa vencedora, que demonstrou possuir mais maturidade. Felicidades para o futuro das duas equipas.

O árbitro: «Venceu o futebol»

O árbitro Adelino Antunes disse-nos:

– Pela forma como o desafio decorreu, não há dúvida que pode dizer-se ter vencido o futebol. Quando duas equipas lutam desta maneira, a vitória é, realmente, do futebol.»

(“A Bola”, 24.06.1974 – Crónica de Álvaro Perdigão)